Existem alguns
comportamentos que fazem parte do normal desenvolvimento da criança, não
devendo os pais alarmarem-se quando estes surgirem.
A mentira, por exemplo, é uma
conduta aprendida que faz parte dos comportamentos sociais. Nalgumas situações
a mentira torna-se necessária para não magoar os outros, apesar de continuar a
ser um comportamento socialmente criticado, suscitando preocupação nos pais. Durante
os anos da pré-escola a criança ainda não consegue distinguir completamente a
fantasia da realidade e, neste sentido, mentir pode ser uma consequência da sua
imaginação e imaturidade.
Nestes casos, os pais
podem apenas mostrar a diferença entre a sua imaginação e a realidade, ou
quando se trata de uma situação menos importante, simplesmente ouvir a criança.
Com a entrada na escola, a
mentira pode surgir após uma asneira, porque a criança já tem capacidade para
perceber que errou. Desta forma a mentira funciona como uma forma de evitar o
embaraço. Quando mais velhas, as crianças geralmente mentem
para negar algo errado que fizeram e evitar a crítica.
No entanto, quando
a presença da mentira for tão frequente e intensa na vida da
criança que gere frequentemente dificuldades nas relações
interpessoais da criança e/ou comece a afetar o
seu funcionamento nos ambientes onde está inserida (casa, escola, amigos) é
necessário procurar ajuda.
Cada situação exige uma
atuação diferente, tendo em conta a gravidade e a frequências das mentiras. No
entanto é fundamental que a relação da criança com os pais promova
segurança para a criança poder dizer a verdade, sem ameaças.
Um outro comportamento
muito habitual nas crianças em idade pré-escolar é o tirar coisas (roubo) aos colegas.
Este comportamento
pode reflectir imaturidade e incapacidade de esperar pelo que deseja
ou por outro lado pode ser uma chamada de atenção sobre si própria, quando
percebe que se trata de um comportamento que preocupa os pais.
Torna-se importante
compreender o que conduz a criança a esse comportamento, devendo-se transmitir
simultaneamente que aquela não é a melhor maneira de obter a atenção dos pais,
obrigando-a a devolver o objecto que retirou. Em idade escolar, já
é menos esperado que a criança retira coisas aos outros.
Tanto a mentira como o
furto são comportamentos esperados e fazem parte do desenvolvimento humano,
porém, caso esses comportamentos tenham presença constante, os pais devem
procurar ajuda especializada, de forma a evitar o agravar da situação.
Quando devemos procurar
ajuda especializada?
Como atrás referi, é
fundamental a distinção entre os comportamentos comuns para uma faixa etária ou
nível de desenvolvimento e os comportamentos que permanecem contra aquilo que é
esperado. O que os separa é
essencialmente a sua gravidade, duração e frequência.
No caso da mentira e do
roubo, se a sua presença for constante e se ocorrer simultaneamente
em diferentes contextos, o
acompanhamento especializado pode ajudar os pais a encontrarem diferentes
formas de agir, evitando que a sua relação com a criança
seja afectada.
O psicólogo pode ajudar a
família a encontrar outras formas de funcionamento que promovam a modificação
de determinados comportamentos.
A ajuda profissional
pode ser necessária quando a presença de comportamentos considerados difíceis
de se lidar for tão frequente que
impossibilite uma relação positiva com a criança e/ou que esteja a afetar o seu
funcionamento nos ambientes onde está inserida (casa, escola, amigos).
Em suma, o psicólogo pode,
em conjunto com os pais, encontrar a melhor forma de resolver ou atenuar o
problema, tendo em conta aquela família em especifico e o meio onde está
inserida.
Dra. Sara Lóios
Psicóloga Clínica Crianças, Adolescentes e Família